O Território do Desenvolvimento promove diferentes cursos, palestras e espaços de conversa, reflexão e ensino. Nosso trabalho é desenvolvido com base em 7 domínios principais que permeiam os estudos sobre a saúde mental infantil e que direcionam a criação de nossos materiais.
Conheça mais sobre cada domínio do Território do Desenvolvimento:
Parentalidade
O bebê, ao nascer, é necessariamente dependente do adulto que o cerca. A disponibilidade dos pais para o cuidado infantil estabelece a base física, cognitiva e emocional dos filhos. A partir disso, a qualidade das interações entre pais e bebês, por meio de estímulos e respostas às necessidades diversas, sustenta um desenvolvimento saudável. Esse cuidado parental é em parte um legado cultural, uma corrente transgeracional, um espaço de prazeres e desafios constantes.
O exercício diário da parentalidade gera muitos questionamentos. O que é de fato ser pai/mãe? Isso muda de um país para o outro? Como brincar com meu filho/a? O que fazer quando ele/ela não quer fazer as lições da escola? Como reagir diante de uma birra intensa frente ao “não”? Como lidar com crises emocionais recorrentes? Como ajudar a construir uma boa autoestima? Qual é a diferença entre sensibilidade e permissividade parental? Entre ser autoridade e ser autoritário? Este domínio busca dar informações para melhorar a qualidade parental. Vamos cuidar de quem cuida.
Educação
O desenvolvimento humano depende de aprendizado. Aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser são os quatro pilares da educação*. A educação escolar parece começar cada vez mais cedo e as crianças passam cada vez mais tempo na escola. Espaços de ensino se multiplicam ancorados em diferentes linhas pedagógicas, científicas e ideológicas. Enquanto alguns dizem que há excesso de pressão e estresse na aprendizagem, outros comentam que as crianças de hoje “aguentam menos”.
Em meio a diferentes abordagens educacionais, muitas perguntas surgem. Qual a diferença entre elas? Alguma delas é melhor ou pior? Qual o papel da escola no desenvolvimento socioemocional? O que exigir de um programa de inclusão escolar? Como ser sensível a crianças com diagnósticos psiquiátricos em sala de aula sem perder a integração do grupo? Como prevenir o “bullying” em diferentes idades? Como compreender os quatro pilares da educação e a relação entre eles? Este domínio busca dar informações para melhorar a qualidade da relação da saúde mental com o ensino. Vamos aprender a aprender e aprender a ensinar.
* Delors, J. (1996). Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Tradução José Carlos Eufrázio. São Paulo: Cortez, Unesco, MEC.
Patologia e transtornos
O desenvolvimento humano saudável depende do reconhecimento de fatores de risco, tanto biológicos quanto ambientais, que aumentam a chance do desenvolvimento de psicopatologias. Sabe-se que 10% a 15% das crianças possuem transtornos psiquiátricos, independentemente de sua cultura. Identificar tanto sinais de alerta precoces quanto patologias/transtornos em cada faixa etária é relevante para manter o desenvolvimento humano dentro do esperado. Quanto mais cedo este reconhecimento, maiores são os benefícios de tratamento e das mudanças adaptativas associadas a eles.
Existem diversos mitos culturais em torno da existência e do reconhecimento de transtornos psiquiátricos na infância e adolescência. Quais os sinais de alerta do surgimento de transtornos mentais? Quais os diagnósticos mais comuns em cada faixa etária? Como entender o surgimento e evolução dos sintomas? Quais fatores biológicos e ambientais estão associados a melhora e piora das crianças com psicopatologia? Este domínio busca dar informações para melhorar a identificação dos transtornos e seus fatores associados. Vamos reconhecer para prevenir e cuidar precocemente.
Cuidado e tratamentos
Cuidado é inerente ao desenvolvimento humano saudável. Sabe-se que existem diferentes formas de cuidar e nem sempre é fácil identificar as necessidades que o cuidado integral envolve. As crianças podem ser separadas em quatro diferentes grupos: as que não têm risco em saúde mental, as que possuem alto risco para desenvolver sintomas emocionais/comportamentais, as que possuem sintomas ainda sem transtornos e as que possuem transtornos/diagnósticos estabelecidos. Para cada grupo, deve-se pensar nos cuidados específicos para a prevenção em saúde mental.
Os tratamentos em saúde mental infantil nos auxiliam a encontrar formas adequadas de tratar as crianças/adolescentes considerando sua individualidade. Qual o melhor tratamento precoce para os diferentes transtornos? Quando as psicoterapias são indicadas e quais as diferenças entre os diferentes métodos? O que é psicoterapia parental e quando faz sentido trabalhar com os pais além da criança ou até mesmo apenas os pais? Quando é indicado o uso de remédios? Quais os riscos e benefícios dos remédios para os principais transtornos psiquiátricos? Este domínio busca dar informações sobre tratamentos em saúde mental da infância e adolescência. Vamos cuidar da qualidade da assistência clínica das crianças e famílias.
Brincar
Nada ilumina mais o cérebro do que brincar. Brincar é vital ao desenvolvimento humano, assim como dormir, comer e exercitar-se* . Infelizmente o brincar ainda é levado pouco a sério e pode ser olhado de forma negligente pelo adulto responsável. Brincar é uma atividade que indica saúde física e mental da criança, ao mesmo tempo que é um espaço de prazer, de intensidade, de fluxo emocional e motivacional para o desenvolvimento saudável. O brincar é, de forma paradoxal, simples e complexo, a ponto de ser uma das principais ferramentas de vinculação entre adultos e crianças e de apoio para amadurecimento socioemocional. É ainda a principal ferramenta dos profissionais que atuam com crianças, sendo usada para tratamento de diferentes transtornos mentais.
A prática do brincar gera muitas perguntas, a iniciar pela própria definição do que é brincar. Há dúvidas desde os tipos de brincar até sobre como o adulto pode se engajar nas brincadeiras. Por que determinada criança não brinca? Como usar as brincadeiras em casa ou nos consultórios como ferramentas diagnósticas e terapêuticas? Este domínio busca dar informações sobre o universo do brincar e sua pluralidade em diferentes culturas. Vamos aumentar a nossa compreensão do que é brincar e aprender sobre sua simplicidade e complexidade.
* Brown, S. L., & Vaughan, C. C. (2009). Play: how it shapes the brain, opens the imagination, and invigorates the soul. New York: Avery.
Cultura
Existir é em parte ser por meio da cultura, afinal o ser humano é um animal simbólico e se desenvolve através das relações humanas. Cada povo existe a seu modo, com sua língua, seus costumes/ritos alimentares, hábitos sexuais, estereotipias de gêneros e diferenças sociais específicas.
Compreender diferenças culturais é um exercício de empatia, pois é necessário deixar de estabelecer a prática cultural própria como correta ou melhor do que outras. Este desafio de compreensão gera muitas perguntas. Como diferentes religiões enxergam a infância e adolescência? Qual a diferença entre as expressões de afeto nas culturas latinas e orientais? Como entender a diferença de gênero entre culturas e a sua relação com o desenvolvimento saudável ou com transtornos psiquiátricos? Qual a importância das redes sociais no desenvolvimento socioemocional? Como quebrar a ideia de que uma prática cultural é melhor do que outra? Este domínio busca dar informações sobre a influência da cultura no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Vamos expandir nossa capacidade de perceber a cultura como código para construção de comportamentos sociais.
Social
O desenvolvimento humano se dá por meio de exposição social, a qual pode acontecer de forma saudável, tolerável ou tóxica*. Ser exposto de forma saudável é engajar com ajuda em pequenos desafios. Ser exposto de forma tolerável é ter apoio para lidar com eventos difíceis da vida, como falecimentos, doenças graves ou mudança de país. Ser exposto de forma tóxica é não ter apoio para lidar com maus tratos e situações sociais graves, como abuso físico, moral, sexual ou significativa negligência física e/ou emocional.
Os fatores sociais na infância/adolescência têm seus dados ainda pouco difundidos. Por esta razão surgem muitos questionamentos em torno deste tema. Qual o papel do ambiente no desenvolvimento da resiliência e trauma? Quais são os fatores de risco familiares ligados a transtornos psiquiátricos? Qual a associação entre bullying e doença mental? Qual é o papel das comunidades na proteção/exposição de crianças? Este domínio busca dar informações sobre a influência dos fatores sociais no desenvolvimento humano, sejam eles protetivos ou de risco. Vamos sensibilizar para o aumento da rede de proteção e cuidado frente às adversidades.
* Shonkoff JP, Garner AS; Committee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health; Committee on Early Childhood, Adoption, and Dependent Care; Section on Developmental and Behavioral Pediatrics. The lifelong effects of early childhood adversity and toxic stress. Pediatrics. 2012 Jan;129(1):e232-46. doi: 10.1542/peds.2011-2663. Epub 2011 Dec 26. PMID: 22201156.