Marina é mãe de dois filhos, Manuel e Rodrigo. Manuel tem seis anos, primeiro filho, muito esperado, pouco choro, “menino fácil de lidar”. Quando Manuel tinha cinco anos nasceu Rodrigo, hoje com 4 anos. Desde que Rodrigo nasceu Marina diz coisas como: “…quando o Manuel nasceu ele me deixava dormir quase a noite inteira, não precisava acordar de hora em hora”; “… não entendo por que o Rodrigo mama no peito e suga com tanta força, quando Manuel mamava não era assim, não me machucava…”, “…Rodrigo você é muito sensível, não pode falar nada para você e você logo chora… Ê menino chorão”.
Marina desejava que Rodrigo fosse como Manuel:
– Meu filho mais velho não precisava de nada disso, eu não precisava ficar pensando toda hora no que dizer, em como falar, ter cuidado para não criticar, não “rotular”, como me dizem por aí. O que posso fazer se ele é um menino chorão? O que eu posso fazer se ele é uma criança difícil? Manuel é o filho perfeito.
Joana não percebia o quanto comparava os filhos e o quanto isso poderia ser ruim tanto para o mais velho, que estava carregando o peso de ser o garoto exemplo, tanto para o filho mais novo que passaria a carregar o peso do garoto que tinha que ser igual ao mais velho. A expectativa de Marina pesava para os filhos. Era uma forte carga emocional para os dois.
– Criar filho não tem receita, não tem caminho único para educar, pois cada criança é um aprendizado diferente. A gente cria estratégias para compreender, entender, ajudar, e seguir num fluxo de aceitação emocional e compreensão, mas não procure por certezas: seus filhos são uma constante aprendizagem. Educar é lidar com incertezas, assumir compromissos, achar um canal de comunicação quando nada parece fazer sentido. Não há método capaz de prever toda a gama infinita de possibilidades, encontros e desencontros nessa jornada. Ter filho é um mergulho no incerto em um mar infinito de grandes emoções. Sabe Marina, filho perfeito é o Rodrigo que veio te ensinar a ser mãe.
Silêncio.
– … Criança não é igual receita de bolo: você coloca os ingredientes e o bolo sai sempre igual.
– Olha, Marina, te digo que nem com receita o bolo sai sempre igual, não é mesmo? Ser pai/mãe te faz lembrar da certeza da sua própria vida, de que nada é certo, é estar vulnerável e olhar para os medos que ficam escondidos. Afinal, o Manuel não é um manual.